sábado, 23 de julho de 2011

UMA ANÁLISE DA CRIANÇA ONTEM E HOJE



Não existia ou não se conhecia até o século XVII o sentimento de infância que tornasse a criança diferente dos adultos. Conforme Tunes (2006, p.6):

Houve um tempo em que não existiam crianças no mundo. Foi no século XVII que surgiu a ideia de infância: a sociedade começou a perceber que aqueles pequeninos seres tinham um jeito de pensar, ver e sentir característicos. Com a descoberta da infância nasceu também a preocupação com a educação infantil.

Nesse contexto, até o século XVII as crianças eram vistas, igualmente, como adultos, desempenhavam tarefas, se vestiam e se portavam socialmente como tais. O brincar era algo que as crianças desconheciam, pois eram criadas desde cedo sem nenhum tratamento especial, elas viviam e participavam de um mundo adulto.

Nesse sentido, tiradas do convívio familiar logo aos sete anos, essas crianças eram criadas por famílias estranhas, onde aprendia todo o tipo de serviço doméstico. Esses ensinamentos práticos eram considerados muito importantes naquela época. 


Esse afastamento do convívio familiar gerava uma diminuição do vínculo afetivo, entre a criança e seus pais biológicos. A esse respeito Ariès (1981, apud FARIA, 1997, p.11) pontua:

A família não podia, portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significava que seus pais não amassem seus filhos: Eles se preocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela contribuição que essas crianças podiam trazer a obra comum, ao estabelecimento família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental.  
  
Com o passar do tempo essa educação prática do século XVII, deu lugar à educação teórica, que aproximou as crianças de seus pais, havendo por parte dos mesmos uma maior preocupação com seus filhos. Segundo Ariès (1981, apud FARIA, 1997, p.13):

Esta aproximação pais-crianças gerou um sentimento de família e infância que outrora não existia, e a criança tornou-se o centro das atenções, pois a família começou a se organizar em torno dela. No início do século XVII foram multiplicadas as escolas com a finalidade de aproximá-las das famílias, impedindo deste modo o afastamento pais-crianças.

Muitos pensadores se destacaram na luta em defesa da criança e, consequentemente, da infância. Entre eles, destacamos Rosseau, que acreditava na educação como um processo contínuo e natural. Nesta época tiveram início os estudos da psicologia do desenvolvimento, o que contribuiu com um novo olhar para a criança.

Assim, a partir do século XVII, gradativamente, o conceito de infância foi mudando. Com o passar do tempo, o respeito e a valorização da criança foram aumentando e uma nova visão passou a fazer parte da história. Hoje, a criança é vista como um ser social, inserido num contexto social, produtor de cultura, capaz de pensar e com direito de se desenvolver integralmente.


Referências:

FARIA, Sonimar c. de. História e política da educação infantil. IN, FAZOLO, Eliene. [et al]. Educação infantil em curso. Rio de Janeiro, Ravil, 1997. (Coleção da Escola de Professores);

TUNES, Suzel. Rumo à maturidade. Revista Nova Escola, São Paulo, nº 09 (Edição especial) p.6, Editora Abril, abril 2006.

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