segunda-feira, 21 de maio de 2012

NOTÍCIAS EDUCACIONAIS




FALHAS NO ORÇAMENTO DO ENSINO IMPEDEM 30% DAS CIDADES DE RECEBER VERBAS

Cerca de um terço dos municípios brasileiros está com a execução de suas políticas públicas comprometida por estarem impedidos temporariamente de receber recursos federais, via transferências ou convênios. Dados levantados a partir do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope) revelam que, até a noite de sexta-feira (18), quase 1.800 cidades não declararam ao Ministério da Educação (MEC) a situação dos gastos e investimentos em ensino referentes ao ano de 2011.

Conforme manda a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), as secretarias municipais e estaduais de Educação devem transmitir anualmente informações sobre as finanças educacionais por meio do Siope, um sistema eletrônico de planejamento e monitoramento dos gastos com educação gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC, e conectado diretamente com o Tesouro Nacional. Os municípios tinham até 30 de abril para prestar contas, uma regra adotada para verificar o cumprimento da vinculação constitucional de investimento municipal em ensino de 25% das receitas líquidas. O não cumprimento do prazo implica interrupção temporária do recebimento de recursos federais não só para educação, mas para todas as áreas de uma prefeitura, o que compromete a execução de programas e até pagamento de salários de servidores.

"Grande parte dos 1.512 prefeitos que estiveram em Brasília na quinta-feira para assinar convênio de creches com a presidente Dilma apenas assinou um documento, eles não podem concretizar a política. Se não estiverem em dia com o Siope, não poderão receber os recursos", alerta Paulo Cesar Malheiro, coordenador do Siope. À medida que vão enviando as declarações os municípios se tornam elegíveis novamente a pleitear parcerias com o governo federal.

Malheiro conta que em anos anteriores, quando a declaração não era vinculada à interrupção de transferências de recursos, os atrasos na transmissão dos dados era mais comum. "Associar o Siope com a Lei de Responsabilidade Fiscal mexeu no bolso dos municípios, ainda assim só vamos receber 100% da prestação de contas mais para o fim do ano, quando começam a cair na conta das prefeituras o dinheiro das emendas parlamentares, pois deputados e senadores vão pressionar os municípios a saírem da pendência."

O coordenador do Siope explica que a maioria dos casos de atraso ocorre em municípios pobres, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que contabilizam mais de 900 cidades que ainda não enviaram as declarações exigidas pelo Siope. As razões são as mais diversas: problemas de infraestrutura, ausência de técnicos capacitados e dúvidas metodológicas. No Pará apenas 44% dos municípios prestaram contas. A maioria dos municípios no Sul do Estado, conta Malheiro, faz a contabilidade da educação em Belém, uma das quatro capitais, junto com Cuiabá, Natal e Macapá, que ainda devem satisfação ao FNDE.

A prefeitura de Belém informou que desrespeitou o prazo do Siope porque surgiram dúvidas quanto ao preenchimento do formulário de prestação de contas. A Secretaria Municipal de Educação e o FNDE estão em contato, e a transmissão dos dados deve ser feita nesta semana. Já Natal passou por uma pane de informática na Secretaria de Educação. "Nossa sede é um prédio antigo. Mandamos reformar a parte de cabeamento de internet e tivemos uma pane há três semanas e o problema ainda não foi resolvido. Estamos usando lan houses e computadores emprestados de secretarias vizinhas para não parar todos os outros processos", relata José Walter Fonseca, secretário municipal de Educação de Natal. Ele garantiu que a situação se normalizará nesta semana.

Na avaliação do cientista político Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o problema ocorre porque geralmente não é o secretário municipal de Educação quem responde pela gestão das contas públicas do setor. "Quem manda é o prefeito ou o secretário de Fazenda e em muitas prefeituras o contador que cuida do relacionamento com o Siope é contratado externamente. É uma ameaça para o dia a dia de todas políticas públicas do município e um claro sinal de que educação não é prioridade para a gestão." (VALOR ECONÔMICO, 21/05/12)

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PROFESSOR: AINDA O PIOR SALÁRIO

Segundo o IBGE, porém, a diferença para demais profissionais com nível superior caiu


O salário dos Professores da Educação básica no Brasil registrou, na década passada, ganhos acima da média dos demais profissionais com nível superior, fazendo encurtar a distância entre esses dois grupos. Esse avanço, no entanto, foi insuficiente para mudar um quadro que tem trágicas consequências para a qualidade do Ensino: o magistério segue sendo a carreira universitária de pior remuneração no país.

Tabulações feitas pelo GLOBO nos microdados do Censo do IBGE mostram que a renda média de um Professor do Ensino fundamental equivalia, em 2000, a 49% do que ganhavam os demais trabalhadores também com nível superior. Dez anos depois, esta relação aumentou para 59%. Entre Professores do Ensino médio, a variação foi de 60% para 72%.

Apesar do avanço, o censo revela que as carreiras que levam ao magistério seguem sendo as de pior desempenho. Entre as áreas do Ensino superior com ao menos 50 mil formados na população, os menores rendimentos foram verificados entre brasileiros que vieram de cursos relacionados a ciências da Educação - principalmente Pedagogia e formação de Professor para os anos iniciais da Educação básica.

Em seguida, entre as piores remunerações, aparecem cursos da área de religião e, novamente, uma carreira de magistério: formação de Professores com especialização em matérias específicas, onde estão agrupadas licenciaturas em áreas de disciplinas do Ensino médio, como Língua Portuguesa, Matemática, História e Biologia.

Achatamento provoca prejuízos

Pagar melhor aos Professores da Educação básica, no entanto, é uma política que, além de cara, tende a trazer retorno apenas a longo prazo em termos de qualidade de Ensino. A literatura acadêmica sobre o tema no Brasil e em outros países mostra que a remuneração Docente não tem, ao contrário do que se pensou durante muitos anos, relação imediata com a melhoria do aprendizado dos Alunos.

No entanto, o achatamento salarial do magistério traz sérios prejuízos a longo prazo. Esta tese é comprovada por um relatório feito pela consultoria McKinsey, em 2007, que teve grande repercussão internacional ao destacar que uma característica dos países de melhor desempenho educacional do mundo - Finlândia, Canadá, Coreia do Sul, Japão e Singapura - era o alto poder de atração dos melhores Alunos para o magistério.

- Não dá para imaginar que, dobrando o salário do Professor, ele vai dobrar o aprendizado dos Alunos. O problema é que os bons Alunos não querem ser Professores no Brasil. Para atrair os melhores, é preciso ter salários mais atrativos - afirma Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação.O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão, concorda com o diagnóstico da baixa atratividade da profissão. Ele afirma que a carreira de Professor, salvo exceções, acaba atraindo quem não tem nota para ingressar em outra faculdade. Para Roberto Leão, salário é fundamental, mas não o suficiente para melhorar a qualidade do Ensino.

- Sem salário, não há a menor possibilidade de qualidade. Agora, claro que é preciso mais do que isso: carreira, formação e gestão.

Priscila Cruz também diz que o salário é só parte da solução:

- É preciso melhorar salários para que os Alunos aprendam mais. Mas o profissional também tem que ser mais cobrado e responsabilizado por resultados. Não pode, por exemplo, faltar e ficar tantos dias de licença, como é frequente.


Distrito Federal lidera ranking do magistério

Professores de Brasília são os que recebem melhores salários. Rio é o 4 no ensino médio e 9 no fundamental

Os Professores do Distrito Federal recebem os maiores salários da categoria no Brasil, conforme o censo do IBGE. Nem por isso deixaram de fazer greve este ano. Durante 52 dias, cruzaram os braços para reivindicar isonomia com as demais carreiras de nível superior. O sindicato diz que um profissional ganha, em média, R$ 5 mil por mês - o que deixaria o magistério em 23º lugar, dentre 26 áreas do governo local.

No balanço feito pelo GLOBO a partir do censo do IBGE, o DF ficou na primeira posição do ranking salarial de Professores por estado, tanto no Ensino médio (R$ 4.367) quanto no Ensino fundamental (R$ 3.412). O Rio de Janeiro foi o 4º no Ensino médio, com renda mensal de R$ 2.778; e o 9º no Ensino fundamental, com R$ 1.882. Os dados são de 2010 e consideram profissionais da rede pública e privada.

O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) diz que o resto do país não serve de parâmetro. É que, no DF, o governo federal banca despesas de Segurança Pública e parte dos gastos com Educação e Saúde.

- Não podemos comparar o salário do Distrito Federal com o de outros estados e sim com os dos demais trabalhadores do DF. A grosso modo, todas as carreiras do DF têm salários maiores: o médico ganha mais, o policial ganha mais - diz a diretora de Imprensa do Sinpro, Rosilene Corrêa.

A greve terminou no último dia 2. Para recuperar aulas, as Escolas funcionarão aos sábados até o fim do ano.

O Professor de Português Carlos Eugênio Rêgo, de 47 anos, recebe salário bruto de R$ 7.464,42 por mês. Ele leciona há 21 anos e está perto do topo da carreira, cuja remuneração vai de R$ 2.426,69 a R$ 8.794,44, conforme tabela do Sinpro. Trabalha no Centro de Ensino Médio Setor Oeste, Escola da rede pública de Brasília com melhores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) à exceção de colégios militares. Ele diz que, ocasionalmente, dá aulas em cursinhos para complementar a renda.

- O ponto fundamental é a isonomia. Incomoda muito a enxurrada de reportagens dizendo que temos o maior salário do Brasil. Tem que levar em conta o custo de vida - diz Carlos Eugênio.
Já o Professor de Física Lucélio Oliveira Fernandes, 42 anos, conta que o Setor Oeste não tem laboratório de Ciências e dispõe de apenas dois Docentes de Física para 1.140 Alunos de Ensino médio. Segundo ele, seria necessário pelo menos mais um profissional.

- E olha que dizem que essa é a melhor Escola do DF. Fico imaginando como é a pior - afirma Lucélio.

Às vésperas da aposentadoria, o Professor de Geografia e Artes Francisco Chagas Rocha, o Paco, de 64 anos, vê descaso na forma como os governos, depois de eleitos, tratam o magistério:

- Se você ganha seis ou sete mil reais por mês, acaba ganhando (líquido) 3.500 reais. E o GDF (governo do Distrito Federal), escreva aí, por favor, o GDF, cretinamente, diz que o Professor ganha bem - diz Paco.

Formados em Medicina têm maior renda média

Engenharias também dão alto retorno financeiro

No outro extremo das carreiras universitárias, o Censo 2010 do IBGE mostra que nenhuma outra área é tão vantajosa, em termos financeiros, quanto Medicina. Os médicos têm os maiores salários e a menor taxa de desemprego entre profissionais com nível superior: apenas 0,7%.

Engenharia Civil e Construção é a segunda de melhor remuneração no país e a terceira com menor taxa de desemprego (1,7%). Ao menos no que diz respeito ao desemprego, as carreiras Docentes não são tão ruins, com taxas médias próximas a 3% (a média nacional para todas era de 8% em 2010)

- O caso da Medicina chama atenção. Taxa de desocupação baixa, renda média elevada e 42% dos profissionais possuem dois empregos (ou mais), fixando-se em grandes centros urbanos. Há déficit de profissionais para suprir a demanda nacional e elevada concentração nos grandes e médios centros urbanos - diz Henrique Heidtmann, coordenador de graduação da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV.

Para ele, este quadro levanta um desafio importante de fixação de profissionais em regiões afastadas dos centros urbanos, que precisam oferecer salários bem maiores que os dos grandes centros e, mesmo assim, encontram dificuldades para contratar médicos.

Presidente da Federação Nacional dos Médicos, Cid Carvalhaes ressalta que médicos trabalham, em média, 62 horas semanais, o que ajudaria a explicar a renda elevada, e reclama de vínculos empregatícios precários e de falta de segurança e equipamentos:

- Não tem desemprego para médico hoje. Tem subemprego. Para conseguir esse salário médio mensal, ele cumpre jornada 50% maior que a de qualquer outro profissional e trabalha à noite, aos sábados, domingos e feriados.

Na avaliação de Edson Nunes, pró-reitor da Universidade Candido Mendes e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação, apesar de algumas carreiras terem renda e desemprego maiores que outras, as taxas são sempre melhores que as da população sem diploma universitário. Mas pondera que nem sempre o profissional de nível superior consegue emprego em sua área. de formação.

Professor da FGV, Kaizô Beltrão observa outro ponto importante:

- Existem atividades em que há pessoas com diplomas de nível superior atuando em profissões que requerem só nível médio ou outros níveis. São profissionais com diploma de nível superior atuando em posições que não exigem graduação. 


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