Historicamente a utilização de rotinas
na escola está relacionada aos ideais de eficiência no trabalho e controle da
produção, implantados na Revolução Industrial. No Brasil começa a ganhar força
nas décadas de 1960/70, contexto educacional em que a educação nacional é
ampliada em termos de demanda e que vigora a Corrente Pedagógica Tecnicista, a
qual o ensino volta-se ao saber fazer e ao controle do que é ensinado. Gestor e
supervisor eram vistos como responsáveis
pelo trabalho intelectual e o professor era o encarregado pela execução do que
foi planejado.
Nesse contexto, quando se falava em
rotinas na escola, pensava-se logo nas atividades que tinham sido planejadas de
modo a dividir o conteúdo em pequenas dosagens diárias com o objetivo de se
fazer cumpri-las, independente do que pudesse acontecer no decorrer do
processo.
Essa maneira de organizar o trabalho
pedagógico estava baseada em uma concepção de ensino pautada na memorização dos
conteúdos. Desse modo, o dia-a-dia da sala de aula era transformado em uma
sucessão de atividades repetidas guiadas, em geral, por manuais que garantiam a
absorção máxima do que era proposto, planejado.
Na década de 1980, com a difusão das
teorias construtivistas e sócio-interacionista de ensino-aprendizagem, as
práticas pedagógicas de rotinas pré-estabelecidas, que contemplavam a
realização diária das mesmas atividades, passaram a ser amplamente criticadas.
Por
meio de uma interpretação equivocada da teoria construtivista, passou-se a
criticar tudo o que se relacionava ao planejamento e a organização do trabalho
pedagógico com justificativa de que era “tradicional”. Assim, a sala de aula,
muitas vezes, passou a ser um lugar de improviso e imprevistos constantes.
Contudo, de acordo com as abordagens
construtivista e sócio-interacionista de ensino-aprendizagem, é preciso que o professor saiba os conteúdos, os
procedimentos de ensino, conheça os seus alunos e o que eles sabem sobre
determinados conteúdos.
Nessa perspectiva, a organização do
trabalho pedagógico torna-se fundamental e precisa envolver um conjunto de
procedimentos que, intencionalmente, devem ser planejados para serem executados
durante certo período de tempo, tomando como referência as práticas sociais/culturais
dos sujeitos envolvidos, suas expectativas e conhecimentos.
Dessa forma, o trabalho com rotinas
torna-se um caminho seguro já que possibilita a garantia de aperfeiçoar o tempo
didático, conforme os objetivos de ensino a serem alcançados, o que favorece a
melhor organização do planejamento e o melhor andamento das atividades
escolares.
No ciclo de alfabetização, as rotinas
devem favorecer além da organização do tempo e a distribuição das atividades
escolares, a garantia da alfabetização na perspectiva do letramento e da
interdisciplinaridade.
Organizar o tempo escolar sugere que
seja assegurada ao aluno a garantia da aprendizagem naquele determinado espaço
de tempo em que se está na escola, na sala de aula, ou seja, que seja dado ao
aluno à possibilidade de diferentes interações com os objetos de ensino,
intencionalmente propostos, para aquele determinado tempo de ensino.
Garantir a alfabetização na perspectiva
do letramento sugere a construção de rotinas escolares em que se contemplem os
diferentes eixos de ensino da língua, por meio de um planejamento elaborado com
base na realidade de cada aluno na escola e que favoreça a autonomia e
criatividade dos mesmos no mundo da leitura e escrita.
Embora no Ciclo de Alfabetização o foco
principal do trabalho pedagógico seja a garantia da alfabetização, o professor
deve disponibilizar em sua rotina um lugar para o trabalho com as demais áreas
de ensino, buscando sempre que possível fazer a articulação das mesmas com os
objetivos da alfabetização, favorecendo a interdisciplinaridade e a garantia
dos direitos de aprendizagem das demais áreas de ensino.
No planejamento das rotinas semanais
para o Ciclo de Alfabetização é importante diversificar as atividades com leituras
diversas, jogos de alfabetização, registros e produções textuais, rodas de
conversa, interpretações de textos e contextos, utilização dos livros didáticos
das várias áreas de ensino, o trabalho com projetos de sala de aula e ou
projetos permanentes da escola, a utilização de salas de apoio (leitura, vídeo
e informática - devem ser utilizadas prioritariamente para o trabalho com a alfabetização
e o letramento), entre outras atividades.
Fonte:
Cadernos Pacto – Unidade 02 – Anos 1,2,3 e Educação do Campo